Dia 1 – Dia Nacional da Consciência Negra – 20 de Novembro
É sabido que na sociedade brasileira de tradição escravocrata as mulheres negras
compõem a base da pirâmide social, pois estas são as principais vítimas do sistema
capitalista, e minoria no acesso às políticas sociais de um modo geral. De acordo com os
dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) no ano de 2023, 52% das
vítimas de violência doméstica eram mulher negras, o que se repete, quando são
verificados os dados de feminicídio, sendo 63% do total. Logo, é possível observar que
as políticas sociais de combate à violência doméstica necessitam ter um olhar atento
para as questões subjetivas das mulheres negras. Estas mulheres também são as
principais vítimas de violência obstétrica e de mortalidade materna (considerada por
especialistas uma ocorrência evitável com acesso a informações e atenção do pré-natal
ao parto). Assim, tais violências como o machismo e o racismo são evidências da
desumanização dessas mulheres, negando-lhes a condição de pessoas e transformando-
as em “coisas”. Em uma segunda analise, é importante destacar a luta de mulheres
negras, como as quitandeiras no período de escravização, que vendiam alimentos nas
ruas dos centros urbanos, para sustentar as suas famílias e, também, utilizavam os lucros
de seus negócios para comprar a alforria de parentes escravizados. Desde o período da
escravização, que as mulheres negras veem costurando as suas vidas com fios de ferro, e
enquanto as mulheres brancas avançavam no mercado de trabalho, as mulheres negras
continuavam marginalizadas, limitadas a empregos mal remunerados e sem perspectivas
de ascensão social. Como escreve Krada Kilomba (2020), as mulheres negras são o
“Outro do Outro”. Ser uma mulher negra na sociedade brasileira é enfrentar questões e
obstáculos que outros grupos da sociedade não enfrentam. De fato, o peso histórico do
racismo e do machismo formam um sistema discriminatório na sociedade brasileira, que
faz com que as mulheres negras sejam secundarizadas em diferentes âmbitos, mas
principalmente nas políticas sociais, não conseguindo o acesso a vários direitos sociais e
ficando mais expostas aos vários tipos de violência estrutural, institucional e doméstica.
Por isto, no dia da consciência negra, clamamos pelo fim da discriminação das mulheres
negras, junto com o fim da violência contra mulheres e meninas.
Por Natália Ferreira – Grupo de Pesquisa e Extensão em Políticas Sociais, Cidadania e
Serviço Social/CNPQ/PPG PSDH/UCPEL.
REFERÊNCIAS:
CARRIJO, Christiane; MARTINS, Paloma Afonso. A violência doméstica e racismo
contra mulheres negras. Revista Estudos Feministas, v. 28, n. 2, p. e60721, 2020.
KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Editora
Cobogó, 2020.
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. São Paulo: FBSP, 2024. Disponível em: https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/dados-e-
fontes/pesquisa/18o-anuario-brasileiro-de-seguranca-publica-fbsp-2024/. Acesso em: 18 nov. 2024.