Observatório Nosotras

Apresentação

O presente projeto foi idealizado pelo Grupo de Pesquisa e Extensão sobre Política Social, Cidadania e Serviço Social vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Política Social e Direitos Humanos da Universidade Católica de Pelotas (UCPEL). À princípio surgiu como uma ideia de construção de um banco de dados que aglutinasse informações sobre a violência contra mulheres e meninas nos municípios de Pelotas, Rio Grande e Jaguarão.

Com o avançar das discussões e ao identificarmos que já existe proposta semelhante no Grupo Interdisciplinar de Trabalho e Estudos Criminais-penitenciários (GITEP), decidimos por ampliar o Observatório para além da base de dados, pois poderíamos divulgar os do próprio GITEP, pensando então num espaço virtual construído de forma coletiva com Universidades, Poder Público e entidades da sociedade civil para divulgar espaços e ações de enfrentamento da violência contra meninas e mulheres nos municípios da região sul do Rio Grande do Sul que compõem a Rede Sul pelos Direitos das Mulheres. Além disso, elaborar boletins informativos, oportunizar a divulgação de produções acadêmicas sobre a temática e de canais de comunicação entre as mulheres e contatos para denúncia.

Cabe salientar que, como a proposta também se estende às mulheres de fronteira, “Nosotras” foi um nome construídos com o objetivo de fortalecer laços.

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Justificativa

A cada duas horas uma mulher é morta no Brasil, num total de 4.519 assassinatos por ano, segundo dados do Atlas da Violência (IPEA, 2020).

Em se tratando de agressões físicas, o Mapa da Violência de Gênero, com dados de 2020, nos mostra que quase 67% das vítimas no Brasil são mulheres.

Ainda que tenhamos a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), referência mundial de legislação no que tange a violência contra a mulher e a implementação de vários Decretos e Leis Estaduais[1], não têm sido suficientes para conter o avanço dos casos.

Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2021), nos dois primeiros meses da pandemia houve um aumento nos casos de feminicídio no Brasil, porém os registros de violência contra a mulher no último ano, apesar de manterem-se elevados, diminuiu em relação a 2019. Isto demonstra que o isolamento social para conter a propagação do vírus pode ter dificultado as denúncias visto a proximidade da vítima com seu agressor.

A prova está no fato de que a mesma pesquisa alerta para o aumento dos registros de violência contra a mulher dentro de casa, principalmente protagonizados por seus companheiros, namorados e ex-parceiros que não se conformam com o fim do relacionamento. Se 2019 registrou 42% de mulheres agredidas dentro de casa, em 2020 este número passou para 48%.

Dentro desses dados é importante ressaltar o fato de que as mulheres não brancas estão entre as que mais sofrem violência em nosso país.

Quando o Atlas da Violência (IPEA, 2020) nos diz que o Brasil contabiliza uma mulher morta a cada duas horas vítima de violência, ele destaca que 68% daquele total eram negras.

Segundo dados do Monitor da Violência (G1, Núcleo de Estudos da Violência da USP e Fórum Brasileiro de Segurança Pública), 75% das mulheres assassinadas no Brasil no primeiro trimestre de 2020 eram negras.

O Brasil também bate recordes em se tratando de violência contra pessoas LGBTQIA+. E aqui é importante destacar dentro desses números vemos principalmente a violência contra as mulheres transsexuais.

De acordo com o relatório da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais (ILGA), o Brasil ocupa o primeiro lugar nas Américas em quantidade de homicídios de pessoas LGBTQIA+ e também é líder em assassinato de pessoas trans no mundo[2].

Importante lembrar que em 2017 tivemos no Brasil o primeiro caso de assassinato de uma mulher trans enquadrado no crime de feminicídio. O caso ocorreu em São Paulo, na época o companheiro de Michele foi indiciado. Situação que se repetiu em 2019, quando o Tribunal de Justiça do Distrito Federal determinou que as agressões sofridas por Jéssica Oliveira, tratava-se de tentativa de feminicídio[3].

Ainda que identifiquemos avanços na legislação e medidas de proteção às mulheres, isso não têm bastado para frear a ação de seus assassinos e agressores. Isso apenas comprova que o machismo, assim como o racismo e a transfobia, é estrutural em nossa sociedade. E para além de medidas punitivas, é importante e urgente fomentar canais de educação que concilie prevenção e promoção para possibilitar mulheres livres.

Por isso, quando “Nosotras” nasce, nosotras renascemos a cada possibilidade de enxergarmos umas as outras, identificarmos pautas comuns e nos fortalecemos com as dores sofridas e a necessidade de superá-las numa construção coletiva.

O Nosotras torna-se relevante espaço de divulgação dos canais de prevenção, proteção e denúncias das violências contra todas as mulheres, além da divulgação de trabalhos acadêmicos e elaboração de boletins que fomentem o combate à violência. O Nosotras também oportunizará um canal de comunicação entre as mulheres, onde poderão compartilhar suas experiências e suas dores.


[1] Apenas no Rio Grande do Sul contamos com um total de 16 Leis e 10 Decretos que asseguram medidas de prevenção, proteção e promoção dos direitos das mulheres conforme pode ser observados em < https://mapadaviolenciadegenero.com.br/leis/>

[2] Não foi possível encontrar dados referente a mulheres trans, especificamente. Os dados nos trazem informações referente à violência contra pessoa trans de um modo geral (homens e mulheres).

[3] Informação noticiada pelo site da UOL. Disponível em <https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/08/10/violencia-contra-trans-tambem-e-feminicidio-decide-tribunal-no-df.htm> Acesso em: 21, Jul 2021.

Objetivos

Construir um espaço virtual de forma coletiva com Universidades, Poder Público e a sociedade civil organizada para divulgar espaços e ações de enfrentamento da violência contra meninas e mulheres nos municípios de Pelotas, Rio Grande e Jaguarão. Além disso, elaborar boletins informativos e oportunizar a divulgação de trabalhos acadêmicos sobre a temática.

Objetivos específicos

  • Mapear espaços e ações de enfrentamento da violência contra meninas e mulheres em Pelotas, Rio Grande e Jaguarão;
  • Criar site do Grupo na UCPel e páginas em redes sociais onde serão divulgadas medidas de prevenção e enfrentamento da violência anteriormente mapeadas;
  • Fortalecer as iniciativas de enfrentamento por meio de sua divulgação nas páginas do Observatório e realização de “lives” com os/as representantes do poder público, da sociedade civil organizada, assim como com pesquisadores/as sobre o tema;
  • Elaborar boletins informativos (mensais ou trimestrais) que abordem o tema;
  • Abrir caixas de diálogos no site e nas redes sociais que possibilite às mulheres falarem sobre suas violências (de forma anônima ou pública, caso assim desejarem);
  • Divulgar casos de feminicídio dos municípios que compõem a Rede Sul pelos Direitos das Mulheres, contendo a identificação das vítimas e de seus agressores, pois não se trata de apenas mais um número e sim de mais uma história, uma vida ceivada pelo patriarcado.

Colaboradores iniciais

PELOTAS

  • Rede Sul pelos Direitos das Mulheres;
  • Grupo Autônomo de Mulheres de Pelotas;
  • Frente Feminista, Antirracista e Anticapitalista 8M;
  • Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica/RS
  • Grupo de Pesquisa e Extensão sobre Política Social, Cidadania e Serviço Social (GPEPSCISS) – UCPEL;
  • Grupo Interdisciplinar de Trabalho e Estudos Criminais-Penitenciários (GITEP) – UCPEL;
  • Universidade Federal de Pelotas.

RIO GRANDE

  • Universidade do Rio Grande do Sul.

JAGUARÃO

  • Projeto de extensão Violência de Gênero, pandemia de coronavírus e políticas públicas – UNIPAMPA.

Contato

nosotras@ucpel.edu.br

Como Denunciar

O governo federal oferece os seguintes canais de denúncia: