21 dias de ativismo pelo fim da violência contra Mulheres e Meninas – Dia 12 – 01/12
A violência obstétrica e reprodutiva é uma violação dos direitos humanos que afeta mulheres de diversas origens, mas cujos impactos são desigualmente distribuídos, refletindo uma interseccionalidade complexa entre gênero, raça e classe social. Mulheres negras, indígenas e aquelas de classes socioeconômicas mais baixas frequentemente enfrentam a desumanização durante o atendimento obstétrico, o que se traduz em práticas abusivas, falta de consentimento informado e negligência.
Nesse contexto, a violência obstétrica não é somente uma questão individual, mas um reflexo de sistemas opressivos que perpetuam desigualdades. Estudos mostram que mulheres racializadas têm maiores chances de vivenciar intervenções desnecessárias e sofrer complicações, enquanto o acesso a cuidados de qualidade é muitas vezes negado, exacerbando o risco de mortalidade materna. As estruturas de poder e preconceitos enraizados nas instituições de saúde impossibilitam a escuta das vozes dessas mulheres e minimizam suas experiências.
Nas duas últimas décadas, a taxa de mortalidade materna (TMM) de mulheres negras se manteve consistentemente superior à de mulheres brancas, chegando, em 2022, a 100,38 óbitos por 100 mil nascidos vivos entre mulheres pretas, enquanto a taxa entre mulheres brancas foi de 46,56 (SIM/DataSUS, 2023). Mulheres negras também seguem enfrentando piores condições de atenção obstétrica: realizam menos consultas de pré-natal, aguardam mais tempo para atendimento, enfrentam maiores restrições quanto à presença de acompanhantes durante o parto e são submetidas com maior frequência ao parto normal — 54,2% entre mulheres pretas versus 48,6% entre mulheres brancas (FIOCRUZ, 2022).
Além disso, a classe social desempenha um papel crucial, pois mulheres de baixa renda frequentemente carecem de acesso a serviços médicos adequados e são mais vulneráveis à violência nas mãos de profissionais de saúde despreparados ou preconceituosos. A marginalização dessas mulheres é uma consequência de políticas públicas que falham em garantir atendimento respeitoso.
Portanto, lutar contra a violência obstétrica e reprodutiva requer um compromisso com a equidade. É essencial promover a formação de profissionais de saúde em questões de gênero e raça, garantir o acesso universal a serviços de saúde de qualidade e ouvir as experiências das mulheres em suas diversas realidades. Apenas assim poderemos transformar as estruturas que perpetuam essa violência, garantindo que todas as mulheres tenham direito a um parto seguro e humanizado.
Assista o vídeo da Arena Sociológica em conjunto com o Observatório NOSOTRAS na campanha 21 Vozes, 21 Dias: https://www.youtube.com/watch?v=WT2PSeIPMso
Por Janaina da Silva Guerra – Assistente Social da Universidade Federal de Pelotas e Doutora em Política Social e Direitos Humanos
REFERÊNCIAS:
BRASIL. Ministério da Saúde. SIM/DATASUS – Sistema de Informações sobre Mortalidade. Brasília: Ministério da Saúde, 2023. Disponível em: https://datasus.saude.gov.br/informacoes-de-saude/tabnet/. Acesso em: 26 nov. 2025
FIOCRUZ. Relatório final: Nascer no Brasil II – Pesquisa Nacional sobre Parto e Nascimento. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2022. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/57850. Acesso em: 26 nov. 2025.
