Nota Pública | 10 feminicídios em 4 dias: até quando?
Entre os dias 18 e 21 de abril de 2025 — feriado da Páscoa e Tiradentes — o estado do Rio Grande do Sul registrou 10 feminicídios em diferentes cidades. Em menos de 100 horas, 10 mulheres (uma delas adolescente) foram brutalmente assassinadas por companheiros e ex-companheiros, evidenciando a violência estrutural, a negligência do Estado e a escassez de políticas públicas de enfrentamento às violências contra mulheres e meninas.
Os casos de feminicídio revelam a escalada da brutalidade contra mulheres em diferentes territórios e contextos – Feliz, Parobé, São Gabriel, Bento Gonçalves, Viamão, Santa Cruz do Sul, Serafina Corrêa, Ronda Alta e Pelotas, e refletem uma estrutura social profundamente machista e naturalizada.
O mais recente ocorreu em nosso município, Pelotas, onde uma mulher foi assassinada a tiros em plena luz do dia, em frente ao seu local de trabalho. Um feminicídio que, lamentavelmente, não representa uma exceção, mas sim um padrão de violência de gênero que se repete diariamente no estado e no país.
A recorrência desses episódios — alguns com requintes de extrema crueldade e, em muitos casos, diante dos próprios filhos — evidencia não apenas a urgência de políticas públicas eficazes de enfrentamento à violência, mas também a necessidade de um debate coletivo sobre os mecanismos que sustentam e reproduzem essa violência.
Esses feminicídios não são tragédias isoladas, mas expressão de uma estrutura patriarcal violenta e misógina que persiste com a conivência do Estado. A precarização das redes de proteção, o sucateamento da Assistência Social, a ausência de investimentos em políticas públicas de prevenção e enfrentamento à violência e o desmonte da rede de atendimento intersetorial são elementos que colocam a vida das mulheres e meninas em risco cotidiano.
O anúncio de uma plataforma online para solicitação de medidas protetivas, feito pela Polícia Civil, é uma resposta tecnológica que ignora as barreiras reais de acesso enfrentadas por muitas mulheres – como falta de internet, sigilo, segurança e orientação jurídica. Onde estão os investimentos em casas-abrigo, delegacias especializadas, formação contínua das forças de segurança, campanhas educativas permanentes e o fortalecimento da Lei Maria da Penha?
É urgente o retorno da Secretaria de Políticas para as Mulheres do Rio Grande do Sul, com orçamento próprio e servidoras qualificadas para suprir a demanda e a grave situação de emergência que vivenciam diariamente muitas mulheres e meninas.
O Observatório NOSOTRAS se soma à voz de milhares de mulheres gaúchas para exigir do Governo do Estado ações imediatas, robustas e estruturais para o enfrentamento às violências de gênero. Não aceitaremos mais pequenas promessas pontuais diante do derramamento de sangue.
A vida das mulheres importa! Nós queremos viver! Parem de nos matar!
Por Cristiani Gentil Ricordi – Doutoranda no Programa de Pós-Graduação e Política Social e Direitos Humanos da Universidade Católica de Pelotas e Janaina da Silva Guerra – Assistente Social da Universidade Federal de Pelotas e Doutora em Política Social e Direitos Humanos.
*Imagem destacada – Conselho Estadual dos Direitos da Mulher. Disponível em: https://www.cedm.pr.gov.br/Noticia/Sejuf-busca-recursos-para-promover-acoes-e-romper-ciclo-de-violencia-contra-mulher. Acesso em: 22 abr. 2025.