21 dias de ativismo pelo fim da violência contra Mulheres e Meninas – Dia 09 – 28/11
O assédio sexual em espaços públicos segue sendo uma das formas mais naturalizadas de
violência contra as mulheres. Quando uma mulher caminha na rua e recebe comentários sobre
seu corpo, é interrompida, seguida ou constrangida, não estamos diante de “elogios”, mas de
uma violação. Como lembra Bell Hooks, a opressão se sustenta justamente quando práticas
violentas são tratadas como normais. Nomear o assédio é o primeiro passo para enfrentá-lo.
O assédio não acontece por acaso: ele faz parte de um sistema que historicamente tenta
controlar os corpos femininos. Angela Davis demonstra que desigualdades de gênero, raça e
classe atravessam essa experiência, tornando mulheres negras, indígenas e periféricas ainda
mais vulneráveis. Reconhecer essa desigualdade é essencial para combater uma violência que
não atinge todas da mesma forma.
A rua deve ser um espaço de circulação e liberdade, não de medo. Judith Butler nos lembra que
nossos corpos existem em relação com o espaço público, e quando mulheres mudam rotas,
horários e roupas para evitar agressões, estamos diante de uma limitação estrutural da liberdade.
Para Paulo Freire, toda prática que restringe a autonomia de um sujeito é opressora e precisa ser transformada coletivamente.
Nesse sentido, a educação é uma das estratégias mais potentes para enfrentar o assédio. Uma
educação que forme para o respeito, que questione o machismo desde cedo, que envolva
meninos e meninas na construção de relações igualitárias, e que capacite escolas, famílias e
comunidades a reconhecer e intervir nessas violências. Como defendem hooks e Freire,
processos educativos críticos não só informam: eles libertam. E é essa libertação individual e
coletiva, que pavimenta o caminho para que as mulheres ocupem os espaços públicos com
dignidade, segurança e pleno direito à cidade.
Precisamos ter esperança.
Assista o vídeo da Arena Sociológica em conjunto com o Observatório NOSOTRAS na campanha 21 Vozes, 21 Dias: https://www.youtube.com/watch?v=M9KNyEIbFZs
Por Diná Lessa Bandeira – Bacharela em Biblioteconomia e mestre em Comunicação Social, integrante da Rede Sul de Proteção aos Direitos das Mulheres e Meninas/ Observatório NOSOTRAS.
Referências Bibliográficas:
Butler, Judith. Corpos em Aliança e a Política das Ruas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2018.
Davis, Angela. Mulheres, Raça e Classe. São Paulo: Boitempo, 2016.
Freire, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2019
hooks, bell. Ensinando a Transgredir: A Educação como Prática da Liberdade. São Paulo: WMF
Martins Fontes, 2017.
hooks, bell. O Feminismo é para Todo Mundo: Políticas Internacionais. Rio de Janeiro: Rosa dos
Tempos, 2018
