Dia 8 – Mulheres de Fronteira – 27 de Novembro
A violência contra mulheres e meninas é uma realidade que ultrapassa fronteiras, sendo ainda mais dura para aquelas que vivem em regiões fronteiriças. No ano de 2019, o feminicídio de Lorena Carrasco chocou as cidades de Jaguarão, no Brasil, e Rio Branco, no Uruguai. Lorena, uma jovem uruguaia de 19 anos, mãe de duas meninas, teve sua vida interrompida de forma brutal.
O autor do crime, seu ex-companheiro, também uruguaio, cometeu o feminicídio em uma localidade próxima à Lagoa Mirim, no Uruguai, e fugiu para o país vizinho. Ele foi localizado e preso na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul.
A história de Lorena é um grito de alerta sobre como a violência contra mulheres e meninas não conhece limites territoriais e evidencia a fragilidade das políticas públicas de proteção às mulheres em cidades gêmeas, como Jaguarão e Rio Branco.
Cidades fronteiriças enfrentam desafios específicos, como falta de investimentos, infraestrutura precária e pouca integração entre os serviços públicos dos países vizinhos. O caso de Lorena ressalta a necessidade de uma rede eficiente e integrada para prevenir e combater a violência, especialmente, em contextos onde a maioria das vítimas já apresentaram denúncias, mas não encontraram proteção suficiente.
Essa situação é ainda mais urgente nas fronteiras, onde legislações e sistemas distintos não impedem que a região funcione como uma sociedade única, na qual a população de ambos os países convivem diariamente.
Um exemplo dessa carência é a proposta da “Casa da Mulher Binacional”, que visava acolher e unir esforços entre Brasil e Uruguai para criar um espaço seguro e acessível para as mulheres vítimas de violência em Rio Branco e Jaguarão. Contudo, como tantas outras iniciativas para o enfrentamento da violência contra mulheres e meninas, o projeto não saiu do papel.
A ausência de políticas públicas efetivas e de investimentos em projetos como a Casa da Mulher Binacional agrava essa realidade e exige respostas integradas, humanizadas e prioritárias para proteger as mulheres, garantindo que barreiras territoriais não sejam um obstáculo para sua segurança.
Lembrar Lorena é um ato de resistência. É reforçar a luta por uma sociedade que nos garanta o direito de viver sem medo e sem violência. Não podemos permitir que a ausência de políticas públicas voltadas à proteção e prevenção da violência contra mulheres continue a silenciar histórias como a de Lorena. Que sua memória nos inspire a exigir mais investimentos e políticas públicas eficazes para mulheres e meninas que vivem nas margens e atravessam fronteiras todos os dias.
Lorena Carrasco, presente!
Por Cristiani Ricordi – Grupo de Pesquisa e Extensão em Políticas Sociais, Cidadania e Serviço Social/CNPq, Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Política Social e Direitos Humanos – UCPEL e Tamara Techera – Grupo de Pesquisa e Extensão em Políticas Sociais, Cidadania e Serviço Social/CNPq, Graduanda no Curso de Serviço Social – UCPEL.
REFERÊNCIAS:
JAGUARÃO. Departamento de Comunicação Prefeitura de Jaguarão. Prefeitura Municipal de Jaguarão. Prefeito Cláudio participa de encontro sobre violência contra a mulher em Rio Branco. 2015. Disponível em: https://www.jaguarao.rs.gov.br/prefeito-claudio-participa-de-encontro-sobre-violencia-contra-a-mulher-em-rio-branco/. Acesso em: 16 nov. 2024.
LIMA, Juliana. Jornal Tradição Regional (ed.). Feminicídio: Lorena desaparecida desde segunda é encontrada morta em laguna merín. Pelotas. 2019. Disponível em: https://www.jornaltradicao.com.br/jaguarao/policia/jaguarao-registra-mais-um-caso-de-feminicidio/. Acesso em: 16 nov. 2024.