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21 dias de ativismo pelo fim da violência contra Mulheres e Meninas – Dia 04 – 23/11

Escrever sobre nossas vidas, enquanto mulher trans que vive no sul do
país, em uma região interiorana, fronteiriça e profundamente marcada pela
cultura missioneira, é escrever contra muitas camadas de silenciamento. Meu
corpo, como o de tantas outras, nunca coube no silêncio esperado de quem
nasce em territórios onde conservadorismo, religiosidade punitiva e
desigualdades históricas moldam as relações sociais. Talvez por recusarmos
essa mudez imposta é que seguimos sendo alvo de violências tão profundas.


Nos corredores da militância e na caminhada com o Girassol – Amigos na
Diversidade, compreendi que existir aqui, na metade sul, é enfrentar não apenas
a transfobia cotidiana, mas as geografias da exclusão: distâncias enormes entre
municípios, fronteiras que fragmentam políticas públicas, ausência de serviços
especializados e a dificuldade histórica de fazer circular narrativas que nos
humanizem. Romper o silêncio, nesse contexto, é quase um ato de contrabando
de dignidade.


Os dados da ANTRA e da FONATRANS apenas confirmam o que já
sabemos desde sempre: nossas vidas seguem sendo alvo. O Brasil lidera o
ranking mundial de assassinatos de mulheres trans e travestis — uma violência
que, nas regiões interioranas e fronteiriças, ganha contornos ainda mais cruéis,
porque se mistura com isolamento, pobreza, falta de proteção e invisibilidade
institucional. Cada número é uma companheira que poderia ter sido eu ou
qualquer uma das minhas.


É por isso que os 21 Dias de Ativismo, para mim, são mais que uma
agenda: são um grito territorializado. São a afirmação de que, mesmo vindas de
lugares que tentam nos calar, seguimos produzindo vida, apoio, formação e
enfrentamento. Seguimos dizendo que nossos corpos não cabem no silêncio,
nem nas fronteiras, nem nos limites impostos pelo patriarcado.


Porque enquanto tentarem nos apagar, nós — mulheres trans do sul, da
fronteira, do interior missioneiro — seguiremos florescendo. Sempre.

Assista o vídeo da Arena Sociológica em conjunto com o Observatório NOSOTRAS na campanha 21 Vozes, 21 Dias: https://youtu.be/hUZ7vx-1-oY?si=OFK1CAG9mY4zsLIq

Por Lins Roballo – Assistente Social

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