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21 dias de ativismo pelo fim da violência contra Mulheres e Meninas – Dia 02 – 21/11

As mulheres negras ocupam, historicamente, uma posição marcada pela confluência entre racismo, sexismo e desigualdades de classe, conformando um lugar social atravessado por múltiplas formas de violência. No Brasil, a herança da escravização, o controle patriarcal sobre seus corpos e a permanência de estereótipos desumanizadores estruturam trajetórias onde a violência doméstica não pode ser compreendida apenas como conflito privado, mas como expressão concreta das determinações estruturais que moldam a vida da população negra. As marcas coloniais, que construíram a mulher negra como corpo expropriável, forte, disponível e menos digna de proteção, continuam operando na sociedade contemporânea, naturalizando agressões e reduzindo o acesso a redes de apoio, justiça e políticas públicas (hooks, 2023)

Nesse contexto, a violência doméstica vivenciada por mulheres negras é produzida e agravada por dinâmicas sociais que ultrapassam o espaço familiar. O racismo estrutural limita oportunidades, precariza condições de vida e restringe o acesso a direitos, enquanto o racismo institucional (presente nos serviços de saúde, assistência social, segurança pública e sistema de justiça) fragiliza a proteção oferecida a essas mulheres. Muitas vezes, seus relatos são desacreditados, sua dor é minimizada e suas demandas são tratadas com descaso, reproduzindo estereótipos coloniais que historicamente desumanizam os corpos negros (Werneck, 2010).

Assim, compreender a violência doméstica contra mulheres negras exige uma leitura interseccional e antirracista, que considere como as desigualdades estruturais atravessam o cotidiano, produzem vulnerabilidades e limitam possibilidades de proteção. Isso implica reconhecer que as políticas de enfrentamento à violência doméstica não podem ser universais e abstratas, devendo incorporar as especificidades vivenciadas pelas mulheres negras, marcadas pelo racismo estrutural e institucional. É imprescindível que tais políticas contemplem ações que enfrentem as desigualdades raciais, garantam atendimento qualificado, acolhimento sem estereótipos e mecanismos de proteção sensíveis às múltiplas dimensões que atravessam suas vidas. Dessa maneira, o debate demanda reconhecer o corpo da mulher negra como território político de resistência e denunciar a reprodução institucional das desigualdades que impedem seu pleno acesso a direitos, reafirmando a urgência de políticas públicas integradas, antirracistas e comprometidas com a proteção e a vida dessas mulheres.

Assista o vídeo da Arena Sociológica em conjunto com o Observatório NOSOTRAS na campanha 21 Vozes, 21 Dias: https://youtu.be/Ioh8hhgNa2M?si=pb6WwlcmNFEDNBVn

Por Natália Ferreira – Assistente Social na Sociedade espírita assistencial dona Conceição, Mestra em Politica Social e Direitos Humanos e Doutoranda do PPG em Politica Social e Direitos Humanos da UCPel

REFERÊNCIAS:

hooks, bell. E eu não sou uma mulher? mulheres negras e feminismo. 12. ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2023.

WERNECK, Jurema. Nossos passos vêm de longe! Movimentos de mulheres negras e estratégias políticas contra o sexismo e o racismo. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), v. 1, n. 1, p. 07-17, 2010.

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